Londrina

Postado dia 25/08/2013

Comércio de rua está morrendo e perdendo espaço para shoppings

do Jornal de Londrina

Depois de 39 anos no mesmo lugar, a Ibrahim Presentes está prestes a mudar definitivamente de endereço. A loja do calçadão será fechada e o atendimento passará a ser feito exclusivamente nas duas lojas do Catuaí Shopping. A decisão, segundo o proprietário Wajdi Ibrahim El Haouli, foi difícil, mas precisou ser tomada. “O comércio de rua está morrendo em Londrina. Com a abertura dos novos shoppings, não dá para competir”, explica.

A saída da loja de um ponto tradicional e muito valorizado da cidade não surpreende quem acompanha o mercado imobiliário de Londrina. Nos últimos meses, várias lojas estão sendo oferecidas para locação na região. Há poucos anos, esta era uma cena impossível de ser imaginada.

De acordo com Haouli, o movimento do calçadão não é mais o que era há alguns anos. “Ele vem enfraquecendo porque o calçadão ficou muito tempo abandonado. A gente gosta muito daqui, estamos no mesmo local desde 1974, com uma loja que tem 62 anos de fundação. Mas as vendas das lojas do shopping representam três vezes mais”, aponta.

Segundo ele, o problema nem é a falta de segurança, mas a de clientes. “Eu nunca tive problemas com roubos e furtos. Mas hoje, tirando os sábados, o movimento do comércio de rua é pequeno. Está muito ruim. Quem está teimando aqui é quem tem outras opções também, outras lojas nos shoppings”, afirma.

Morte gradativa

Preços médios dos imóveis estão caindo

Segundo dados do levantamento mensal realizado pelo Instituto Paranaense de Pesquisa e Desenvolvimento do Mercado Imobiliário e Condominial (Inpespar/Secovi), a oferta de imóveis comerciais usados para locação aumentou em Londrina. De outubro de 2012 – quando mudaram a forma de coleta de dados – até julho de 2013, a oferta de imóveis comerciais cresceu 32,83%. Só oferta de lojas – o tipo de imóvel comercial mais comum no centro – chegou, em julho, a 250, 20 imóveis ou 8,7% a mais que junho.

O preço médio do metro quadrado da locação para lojas também vem caindo. Em julho, o preço ficou em R$ 21,98, mais de 2,5% menor que o preço praticado em junho. Embora ainda esteja 17,72% a mais que o praticado em julho do ano passado, está 6,5% menor que o preço cobrado em fevereiro deste ano, R$ 23,51, o mais alto já cobrado.

O presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), Flávio Balan, diz que a situação é preocupante. “A saída do Ibrahim Presentes, uma das lojas mais tradicionais de Londrina, do local onde está há quase 40 anos, é apenas mais um capítulo da morte gradativa do comércio de rua na cidade”, diz. Segundo ele, se não for feito uma mudança radical e investimento em infraestrutura na região do centro, “o ticket médio e o tipo de comércio que vai sobreviver ali será aquele de baixo valor agregado”.

O diretor da Federação Nacional de Corretores de Imóveis (Fenaci), Fernando Agudo Romão Júnior diz que a procura por aluguéis de lojas no centro está caindo. Hoje, segundo ele, é fácil encontrar lojas de todos os tipos para locação em pontos considerados nobres, seja no calçadão ou imediações. “A falta de segurança, de facilidade de estacionamento está afastando o consumidor com um poder aquisitivo melhor. Hoje, o centro está praticamente limitado à classe C e D”, afirma. Segundo Romão, quem está se iniciando no comércio não procura mais a região. “Os valores de locação, ali, ainda são altos para quem está iniciando uma atividade.”

Para Flávio Balan, da Acil, ainda é possível reverter a situação. “Depois de 20 anos, agora estamos estreitando laços com a administração pública e também com o Sincoval, para enfrentarmos o problema de fato”, afirma. Segundo ele, será preciso estratégias conjuntas. “O comércio de rua tem sido cerceado em sua liberdade de abrir em horários diferenciados como os shoppings. Além disso, atualmente, não dá para concorrer com a mesma qualidade de espaço que eles têm. É preciso revitalizar, exterminar os pombos, melhorar a iluminação, criar novas estratégias para avançar em todos os níveis”, diz.

Flexibilização de horário poderia ajudar

De acordo com o presidente da Acil, Flávio Balan, as estratégias para tentar reverter a queda do comércio de rua podem representar uma briga declarada com o Sindicato dos Empregados do Comércio de Londrina (Sindecolon). O sindicato é contra a flexibilização do horário do comércio e tem conseguido barrar todas as tentativas de mudanças por parte da Acil. “Mas as empresas grandes de fora e shoppings abrem na hora em que querem”, diz. Ele não quis adiantar quais seriam as ações a serem tomadas.

O presidente do Sindecolon, José Lima do Nascimento, no entanto, diz que todas as empresas podem flexibilizar o horário, desde que paguem as horas para os funcionários. “Na convenção coletiva, há cinco anos vem sendo renovada a cláusula que permite abertura em todos os sábados, desde que o empresário recompense o trabalhador. As grandes lojas funcionam em horário diferenciado por causa disso, têm acordo homologado pelo sindicato. Mas o que acontece aqui é que os donos querem abrir, mas não querem pagar adicionais”, afirma.

Para o corretor Fernando Agudo Romão, o horário flexível do comércio poderia ajudar. “Londrina é uma cidade com mais de meio milhão de habitantes e não tem um supermercado 24 horas. Bauru (SP), que tem mais ou menos 300 mil, tem dois supermercados funcionando nesse regime”, diz. Ele sugere que seja criado, no centro, uma rua 24 horas, com mais segurança. “Isso poderia despertar o interesse de novo pela região”, diz.

 


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