Esportes

Postado dia 16/06/2016 às 19:20:41

Os desafios de Tite para salvar a seleção brasileira

Com dois anos de atraso, Adenor Leonardo Bachi, ou simplesmente Tite, vai assumir a seleção brasileira. Para isso, tanto ele quanto o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, tiveram de ceder.

O cartola, cada vez mais enrolado com a Justiça, convidou o melhor treinador do país muito mais para se livrar dos holofotes e agradar a torcida do que para melhorar o futebol nacional - se fosse essa sua prioridade, jamais teria contratado Dunga. Tite participou, no ano passado, de uma campanha que pedia a renúncia de Del Nero, mas se une agora à CBF em nome da realização profissional (algo compreensível e respeitável).

Sua missão será das mais complicadas, mesmo para o treinador que se consagrou no Corinthians e alcançou o respeito de todas as torcidas. Os problemas estão dentro e fora do campo e há risco de o gaúcho de 55 anos ficar marcado por vexame tão grande ou maior que o do 7 a 1: ver o Brasil fora de uma Copa do Mundo.

Imagem descolada da sujeira da CBF

Mesmo que não queira, Tite terá de ter Marco Polo Del Nero ao seu lado nos dias de convocações – nas viagens, pelo menos, não verá o presidente, que não sai do Brasil desde que passou a ser investigado pelo FBI. No fim do ano passado, Tite assinou, assim como centenas de pessoas ligadas ao esporte, um manifesto que cobrava mudanças na CBF, incluindo a renúncia de Del Nero. Enquanto não explica se houve incoerência de sua parte (ou se mudou de ideia sobre o cartola), Tite deve focar suas atenções ao gramado e deixar a questão política para escanteio. Afinal, torcida brasileira nunca se importou com a ética de seus dirigentes nas épocas de conquistas. Admirado por sua lisura, Tite não precisa derrubar Del Nero. Só precisa ter cuidado para não cair junto.

Domar o mimado e descontrolado Neymar

Durante a segunda passagem de Dunga como treinador, um problema saltou aos olhos: o total descontrole de Neymar. Talvez pressionado por ostentar a faixa de capitão (que jamais mereceu), o atacante do Barcelona desatou a fazer besteiras: levou cartões bobos, desfalcou a seleção por suspensões, deu declarações estapafúrdias e, o pior de tudo, teve péssimas atuações em campo, sem jamais ser cobrado publicamente por Dunga. Em 2012, após um jogo entre Corinthians e Santos, Tite foi enfático ao dizer que Neymar precisava parar de simular faltas, pois não estava dando um “bom exemplo” aos jovens. Espera-se que agora Tite mantenha o olhar crítico. Neymar é, sim, o único atleta acima da média da seleção, um astro mundial e indispensável na seleção. Mas é preciso educá-lo.

 

Recuperar o prestígio da seleção

O que pode ser pior do que o 7 a 1 em casa e duas eliminações na Copa América, uma na primeira fase, num grupo com Haiti, Peru e Equador? Fácil: tudo isso e mais uma inédita não classificação para a Copa do Mundo. Com os fracassos dos últimos anos, o futebol do Brasil passou a ser motivo de chacota e nem os atletas se mostram animados a servir a seleção. A chegada de Tite, campeão de tudo com o Corinthians, ao menos traz um pouco de confiança à equipe. Atualmente, o Brasil é o sexto colocado das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa de 2018 na Rússia (e apenas cinco se classificam).

 

Lidar com as estrelas

Em suas vitoriosas passagens pelo Corinthians, Tite se caracterizou por “tirar leite de pedra”. Jogadores contestados ou pouco conhecidos evoluíram de forma notável e se tornaram destaques, muitos chegando à seleção. Mas Tite não se deu bem com algumas estrelas: por diferentes motivos, Roberto Carlos, Ronaldo, Adriano, Alexandre Pato não renderam bem com o treinador. Na seleção, Tite terá de lidar com egos e salários bem mais inflados do que seria normal, já que os atletas atuam em grandes equipes na Europa, têm dezenas de patrocinadores e compromissos e na maioria dos casos ganham muito mais que o treinador. Espera-se que Tite possa fazer na seleção o que fez nos clubes: ter o grupo na mão e conquistar títulos.

 

Trabalhar à distância, afastado do dia a dia

Tite não é um treinador do tipo “motivador” – ao lado de figuras como Joel Santana e Felipão. Sobretudo depois da “reciclagem” que fez em seu ano sabático (2014), com direito a estágio no Real Madrid, Tite se atualizou ainda mais em termos táticos e técnicos e se tornou um treinador completo. No entanto, um de seus maiores trunfos é a boa relação com os atletas e a sintonia adquirida no dia a dia, com repetições de treinamentos e muito diálogo. Na seleção, Tite se reunirá com o grupo poucas vezes e por períodos curtos. Haverá raros amistosos e, como o Brasil está fora da Copa das Confederações de 2017 (pela primeira vez ausente do torneio), Tite só terá mais de 20 dias seguidos para treinar com a equipe na Copa de 2018 – isso se a seleção chegar até lá.

 

de VEJA

 


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