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Norte do Paraná
Postado dia 07/02/2021 às 21:18:01
O homem na estrada e a lápide de sua irmã
Apega-se muito a objetos, animais e pessoas, ainda que "não há nada para sempre", como tem soado a canção da banda norueguesa A-Ha.
Então o jovem senhor colombiano tinha a opção de transporte da peça por avião, mas preferira as longas horas de carro pela estrada danificada. Mesmo seguindo pela via estreita demais, à beira do precipício, e de muitos quilômetros de rodovia esburacada, não se incomodaria, pois fazia algo para pessoa muito especial a ele.
Também não temia coisa alguma, porque possuía cinco estrelas no céu para protegê-lo: sua mãe, avó, irmão, irmã e irmãozinho.
Preferia percorrer 900 quilômetros, sozinho, da capital La Paz até Riberalta, no norte, não muito distante da fronteira de Bolívia com Brasil.
Não carregava pressa alguma. De cinco horas da manhã até quase nove da noite, vencendo tão somente menos de 400 quilômetros, ainda que as condições adversas do trajeto não ajudava muito. Em seu caminho, observava atentamente e apreciava a paisagem, como um tributo a irmã que muito gostava.
Ao volume alto de canções como "Perdoname" e "Dejame", do grupo Los Chicos Azúcar, o homem ao volante - em seus dias de férias do trabalho, sentia, durante aquela viagem, a presença e companhia de alguém muito importante. E ele dialogava com tal pessoa.
Em cada buraco no asfalto, ou sobressalto no trecho de terra, ele mirava o banco traseiro, como em pedido de desculpas a alguém pela viagem desconfortável. Ele também vez ou outra, com o braço direito para trás, ajeitava a peça valiosa transportada.
E seguia conversando com sua irmã, falecida há aproximadamente seis meses, cuja lápide em peça de mármore italiano seguia rumo ao cemitério da cidade colombiana de Riberalta.