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Postado dia 30/10/2017 às 23:42:51

Educador Nota 10: prêmio vai eleger o melhor professor brasileiro

Educar com excelência garantiu a dez professores brasileiros o título de Educador Nota 10, prêmio promovido pelas fundações Victor Civita e Roberto Marinho. Graças a projetos que engrandeceram não apenas o conhecimento de seus alunos, mas de toda a comunidade, um deles vai ter a chance de se tornar o Educador do Ano em cerimônia que será realizada em São Paulo no próximo dia 30.

Muito diferentes, os trabalhos dos professores trazem como característica comum o esforço em promover mudanças, seja no método de ensino, na forma de envolver os alunos ou na organização do ambiente escolar. Confira quem são os selecionados no maior e mais importante prêmio da educação básica brasileira.

Entre as dez finalistas está também Gislaine Carla Waltrik, professora de geografia no ensino médio do Colégio Astolpho Macedo Souza, em União da Vitória (PR)

As questões de gênero e sexualidade estão cada vez mais presentes no país, sendo abordadas em todas as suas facetas – inclusive a do preconceito. O combate ao problema social se alastra nas redes sociais e em conversas dos jovens; natural, portanto, que bata na porta das salas de aula. Quem soube receber  o assunto de braços abertos foi Gislaine Carla Waltrik, professora de geografia no ensino médio do Colégio Astolpho Macedo Souza, em União da Vitória (PR), divisa entre Paraná e Santa Catarina.

A percepção aguçada possibilitou que a educadora identificasse que assuntos referentes ao sexo surgiam com mais frequência no ambiente escolar, mas não eram abordados devidamente. Com cada vez mais alunos transgênero sofrendo por causa do preconceito, Gislaine resolveu bater de frente com os que acreditam que quanto menos se fala sobre um assunto, melhor: perguntou aos alunos (e aos pais) se gostariam de aprender sobre sexualidade. E a resposta, para sua surpresa, foi a mais positiva possível.

 

A partir disso, ela começou a discutir com os alunos o que era sexualidade e como ela se apresentava no ambiente escolar. “Eles mapearam a escola e pedi que observassem se as questões de gênero criavam barreiras geográficas e segregavam essas pessoas. Descobrimos que sim”, afirma. Tomando por base a noção de que o próprio corpo é um espaço, os estudantes do 2º ano do ensino médio passaram a discutir conceitos como controle de natalidade e pirâmides etárias, os direitos sexuais e reprodutivos de cada ser humano e a violência sexual.

Em cada oficina, os adolescentes foram capazes de criar textos, poemas e desenhos que libertassem suas percepções sobre cada tema. Em um relato forte, uma das alunas fez uma redação em que narra um abuso sofrido quando ainda era criança – uma marca que, segundo ela, nunca vai se apagar. “As meninas que falaram sobre abuso se sentiam muito mais fortes para expor o que pensavam, elas queriam participar, fazer uma denúncia”, diz a professora.

A aproximação com os estudantes revelou a Gislaine muitas histórias sobre os jovens que frequentavam as carteiras de sua sala. Quando deu uma aula sobre dados demográficos, entregou quatro bonecos de papel a cada um dos alunos para que montassem a sua família. “Eles acabaram elaborando famílias com dezesseis integrantes, ou famílias homoafetivas. Isso muda completamente a abordagem que devemos ter na sala de aula. Isso provou que essa era a maneira certa de tratar o conteúdo”, conta.

Após trinta anos lecionando, Gislaine afirma, no entanto, que chegou a pensar em desistir de falar sobre sexualidade quando percebeu a dificuldade de enfrentar a discriminação. “Foi muito difícil. Agora que o projeto correu para a escola inteira, os alunos que sofriam preconceito se sentem mais livres para falar, mas a agressão ainda existe dentro da escola”, afirma. “ Eu me sinto muito agradecida pelo retorno dos estudantes e por vê-los mais fortes. Ao mesmo tempo, tenho medo do momento político que estamos vivendo. Vemos professores sendo afastados por pessoas com discursos conservadores que não querem discutir a diversidade”, diz a professora.

Em uma conversa com a mãe de um de seus alunos, Gislaine percebeu que esse era o muro que deveria derrubar em nome da educação de seus estudantes: a intolerância. “As pessoas começam a vida sexual sem informação, sendo que têm direito a isso – e este também é um dos papéis da escola.”

Com a iniciativa, Gislaine conquistou um lugar entre os dez melhores professores do ano pelo Prêmio Educador Nota 10, promovido pelas fundações Victor Civita e Roberto Marinho. Ela também tem a chance de ser eleita Educador do Ano na cerimônia que acontece no dia 30, em São Paulo.

de VEJA


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