Norte do Paraná

Postado dia 07/04/2017 às 00:03:35

Casa de Leitura Zélia Gattai completa 15 anos em Barra do Jacaré

2017 é um ano especial para os moradores de Barra do Jacaré, principalmente para a professora Aparecida Maria Almeida, fundadora da Casa da Leitura Zélia Gattai, que em agosto, mais precisamente no dia 9, irá completar 15 anos de existência. O projeto que começou com doações de gibis pela própria comunidade, atualmente possui um acervo com mais de 50 mil livros cedidos por leitores e editoras de todo o País. A biblioteca criada para atender à população da cidade ganhou admiradores de toda a região, no entanto, para manter suas portas abertas enfrenta muitos desafios por falta de incentivo do poder público. 

Tia Cida, como é carinhosamente chamada pelos alunos que frequentam a biblioteca, hoje aposentada, conta que tudo começou no ano 2000, quando ainda lecionava na Escola Municipal Pio 12. Da paixão pela leitura surgiu a ideia de construir uma biblioteca na pequena cidade com 2,8 mil habitantes no Norte Pioneiro. "Eu sempre gostei de ler, e desde que comecei a lecionar incentivava a leitura aos alunos. Então veio a ideia de construir uma biblioteca para eles, um espaço onde pudessem frequentar habitualmente para estudar ou simplesmente buscar conhecimento sem aquele sentimento de obrigação que muitos imaginavam na sala de aula. Foi defendendo essa ideia que consegui uma casa no Conjunto Residencial José Galdino Pereira, cedida pela prefeitura, onde comecei o projeto com o apoio da associação dos moradores do bairro", lembra. 

Tudo parecia bem, mas logo vieram os problemas. A professora conta que logo foi remanejada de cargo na escola "por inveja", porque alguns colegas de profissão se incomodavam com o sucesso do projeto. "As coisas estavam acontecendo do jeito que sempre sonhei, arrecadamos cerca de dois mil livros para a biblioteca e estávamos conseguindo manter o projeto com ações desenvolvidas em parceria com a associação de moradores do bairro. Mas algumas pessoas se sentiram incomodadas e tentaram me prejudicar. Fui transferida do ensino fundamental para a educação infantil, na qual imaginavam que eu teria dificuldade em incentivar a leitura aos alunos por serem muitos novinhos, mal sabiam que aquilo só me fortaleceria", pondera. 

A professora então seguiu determinada com o projeto e começou a escrever para editoras e escritores do País pedindo livros para a biblioteca, e logo as doações começaram a chegar. Em pouco tempo, a pequena casa cedida pela prefeitura ficou tomada por dezenas de milhares de livros, entre eles obras de Jorge Amado, de onde surgiu a inspiração para o nome da biblioteca. "Os alunos lamentavam à época a morte do escritor, um dos mais admirados por eles, e num gesto de carinho resolveram escrever cartas em solidariedade à sua mulher, a também escritora Zélia Gattai. Então veio a ideia de batizarmos a biblioteca com o seu nome. Lembro-me que ela ficou bastante emocionada com a sugestão, e nos autorizou por meio de uma carta de próprio punho", revela. 

Luta pela ampliação do prédio

Os anos passam e os livros não param de chegar. Na Casa da Leitura Zélia Gattai são aproximadamente 20 mil exemplares distribuídos, enquanto outros 30 mil volumes ocupam cômodos na casa da professora Aparecida, que já virou extensão da biblioteca. "O projeto deu tão certo que ainda recebemos livros todos os meses de várias partes do Brasil, por isso precisamos de um espaço maior. Um grupo de empresários paulista se propôs a bancar as obras de ampliação na biblioteca, porém, as negociações não avançaram. Também conversamos com o novo prefeito da cidade que manifestou o interesse em nos ajudar, mas disse que para isso é preciso discutir os meios legais. Atualmente a prefeitura arca com as despesas de água e luz, os demais gastos eu pago do próprio bolso e com recursos obtidos pelas ações que desenvolvemos. Infelizmente não temos condições financeiras para oferecer uma estrutura melhor aos nossos leitores, mas não nos falta vontade de trabalhar em busca de mais esse objetivo", garante. 

Todas as terças-feiras e quintas-feiras, a Casa da Leitura Zélia Gattai abre suas portas para os alunos e moradores da cidade e região. Para as estudantes Rosa Maria Tironi dos Santos, Sabrina Pinheiro da Cunha e Verônica Aparecida de Oliveira, todas alunas do 5º Ano na Escola Municipal Pio 12, ir semanalmente à biblioteca virou rotina. 

Hábito que também faz parte do dia a dia da moradora Luciana Aguiar Cruz, que aos 30 anos conclui sua quarta graduação e mesmo assim ainda encontra tempo para trabalhar e continuar frequentando a biblioteca que ajudou a construir. "A leitura transforma as pessoas, e uma biblioteca é fundamental na busca pelo conhecimento. Encontrei na Casa da Leitura (Zélia Gattai) a oportunidade que meus pais não puderam me proporcionar por falta de tempo e cultura, e felizmente hoje posso oferecer esta chance ao meu filho", avalia. 

Além da infinidade de opções aos leitores, a Casa Da Leitura também oferece outras atividades aos alunos da rede municipal de ensino, como por exemplo, peças teatrais que traduzem histórias em quadrinhos às crianças. Sempre que possível, Luciana Cruz, que também é formada em pedagogia faz questão de apresentar seus dotes artísticos. 

Durante a festa em comemoração aos 15 anos de existência da Casa da Leitura Zélia Gattai no fim do ano, a professora Aparecida Maria Almeida pretende lançar um livro no qual conta sua trajetória de vida. O romance retrata a fuga dos pais do Ceará para o Norte Pioneiro do Paraná para evitar que os filhos morressem de fome, e sua relação de amor com a educação. (L.G.B.)

Serviço

Quem puder ajudar na obra de ampliação da Casa de Leitura pode entra em contato com a professora Aparecida Maria Silva Almeida pelos telefones: (43) 99644-2247 e (43) 3537- 1427 ou pelo e-mail: livroscultura_gattai @ gmail.com

por Luiz Guilherme Bannwart, da Folha de Londrina


comente esta matéria »

Copyright © 2010 - 2024 | Revelia Eventos - Cornélio Procópio - PR
Desenvolvimento AbusarWeb.com.br